De volta ao trabalho presencial (uniforme, ponto eletrônico e tudo mais) e a (Grande) Vitória, morando sozinho no meio do ano de 2014. Mas no início tudo é novo. Novo AP: internet (sim, depois de energia o segundo serviço contratado), colchão inflável (que mais tarde causaria uma lesão no ombro) e mesa com cadeiras de ferro dobráveis emprestadas. Havia ainda muito trabalho pela frente para tornar o AP um local confortável para se morar como: chuveiro quente, geladeira, fogão, máquina de lavar, espelho (pentear o cabelo é importante para se trabalhar presencial. Acreditem), carro e eu ainda tinha que implorar a construtora para corrigir um a um os defeitos que iam aparecendo com o tempo, mas essa já é outra história.
Bem. Trabalho novo, vida nova. Empresa com boa estrutura física e sala com ampla e bela vista. As primeiras impressões que me lembro, ainda incluem: novas amizades, muitas visitas ao RH, vale alimentação, crachá e outros cartões, ar condicionado gelado e um roteador tp-link destruído (apenas alguns entenderam :D). O projeto era (e ainda é) bem interessante. É como todo projeto interessante (que também foi o que me motivou a aceitar o trabalho) aprende-se muito. Já que com alguma experiência e muitos trabalhos depois percebi que no fim das contas o que fica é o conhecimento adquirido e as amizades construídas.
Algum tempo depois (não me lembro quanto) começo a perceber que o problema da CLT é estrutural, ou seja, não há nada de errado com o prédio, a vista, o projeto, a tecnologia ou com as pessoas ganharem a vida. O problema é como as relações de trabalho são organizadas. (Nota.) Falo aqui do meu ponto de vista, analista de sistemas por formação trabalhando presencial com carteira assinada, o que pode (e deve) ser bem diferente para as várias outras profissões existentes. Acredito que o trabalho CLT pode e muitas vezes é uma mudança positiva na vida para muitos. Tá entendi. Mas o que estou tentando responder aqui é: e se eu não quiser ser CLT o que que eu faço? Quais opções eu tenho? É isso :)
Mas voltando. É bom ter chefe? E ter vários chefes é bom? É eu sei. Eu tenho uma história interessante para contar sobre esse assunto. Nesse trabalho presencial eu "ganhei" um notebook para trabalhar. Era um i3 com 4GB de ram rodando ubuntu, mesma configuração do meu notebook pessoal na época, atendia, mas confesso que a memória ram estava no limite.
Bem, num certo momento do projeto eu precisei rodar um servidor em uma máquina virtual que usava 4GB de ram, logo não era possível (precisaria de 8GB e só tinha 4), mas com algumas adaptações e de forma precária (muito lento) era possível subir o servidor e abrir uma ou duas outras coisas. Logo pensei: memória é barato hoje em dia e o tempo que vou economizar justifica a compra. Pedi ao meu chefe que autorizou a comprar da memória. Contudo, era necessário passar para um colega incluir a memória em um pedido de compra com três orçamentos. Feito. Passou um tempo (um mês ou mais) e o pedido ainda estava "em aberto" dai eu cometi o engano de pedir para incluir mais um item na compra. Meu chefe que tinha esquecido da minha memória, lembrou e desautorizou a compra. Resumindo. Passado mais algum tempo acabei resolvendo o problema trocando meu velho notebook por um novo com 8GB de ram para usar no trabalho.
Esse é um de muitos exemplos em que mostram, a quantidade de tempo perdido em uma estrutura hierárquica, onde um manda e os outros obedecem, não importa o quão absurdo seja. Como eu meu chefe também tinha os seus chefes e dependia de uma decisão em cascata para conseguir fazer o que queria. Logo, enquanto os chefes do meu chefe tiravam férias na Europa, o projeto, entre a compra de uma memória e outros conta tempos, estava sempre atrasado. E a culpa é sempre do analista que trabalha muito devagar. ;)
Então, mas (você diz) "pode demorar o que for. Eu vou receber o meu salário no final do mês" (ou até que a grande vilã "Crise" chegue trazendo consigo seu compassa "Corte de gastos" e seu raio desempregador :D). Ingenuidade e brincadeiras a parte isso me lembrou de outro exemplo.
Seu chefe lhe passa uma tarefa com um prazo de três meses para ser concluída. Você se esforça bastante, chega mais cedo, sai mais tarde, trabalha de casa e consegue entregar a tarefa (perfeita) antes do tempo. Assim como recompensa por todo esse trabalho você ganha? Mais trabalho. Outra tarefa. Num sistema de trabalho assalariado de linha de produção parar é prejuízo. A produção precisa continuar para justificar o salário todo mês. Agora, como prestador de serviço autônomo você vende um serviço e combina o prazo de entrega. Se esforça e consegue entregar a tarefa (perfeita) antes do tempo e como recompensa por todo esse trabalho você ganha? Tempo!
É muito difícil "pensar fora da caixa" enquanto se está dentro de uma. Pausa para entender como em geral funciona uma empresa. Uma empresa tem um ou vários clientes. O cliente procura a empresa em busca de determinado serviço. A empresa assina um contrato com o cliente com a promessa que irá entregar o serviço (ou produto) após um determinado tempo (prazo). O valor do contrato é uma estimativa de custos, feita pela empresa, para entregar determinado serviço (produto) e gerar lucro (a empresa precisa desse dinheiro para crescer, reinvestir e tudo mais). E onde está o funcionário? O funcionário é custo. Assim, quanto menor o custo (funcionário) de produção, maior o lucro. Logo o salário é o menor valor possível (custo) pago ao funcionário, para que a empresa possa ter o maior lucro. Também, quanto maior o atraso (lembra da memória?) maior o custo (funcionário). Solução? - Raio desempregador neles.
E tempo é dinheiro? Se tempo é dinheiro, então eu posso comprar uns 20 minutos? Na verdade não. Nós vendemos nosso tempo por dinheiro, mas com o mesmo dinheiro, não compramos esse tempo de volta. E o ciclo é mais ou menos assim: "quando tenho tempo não tenho dinheiro e quando tenho dinheiro não tenho tempo". E trabalhar remoto com tecnologia é um dos caminhos que pode levar ao fim desse ciclo. No exemplo acima quem ganha mais o CLT ou o autônomo? Resposta: os dois ganham o mesmo. A diferença é o tempo. Que no primeiro caso pertence a empresa e no segundo ao próprio dono sendo assim livre para escolher o que fazer com ele (o tempo). A segunda grande ruptura (mudança) vem através do entendimento de que, entre outros fatores, tempo não é dinheiro.
Logo se eu consigo ter um equilíbrio financeiro. Eu gasto menos. Se eu consigo vender meu serviço diretamente para o cliente. Menor o custo (menos chefes). Se eu vendo soluções e não tempo, eu trabalho de forma mais eficaz e em um ritmo mais orgânico (meu ritmo). Assim é possível entregar o mesmo serviço, com um custo menor para o cliente e num prazo melhor. (consigo trabalhar menos)
Nos próximos postes (capítulos), quero falar um pouco mais sobre: equilíbrio financeiro, os vários tipos de trabalho remoto e em um ritmo mais orgânico, ou seja, de acordo com a sua capacidade produtiva e em equilíbrio com o que queremos fazer na vida além de trabalhar. Abraço e até.